
Assim, lá
fui eu de mala e “livros”, coabitar com a idosa e mal sabia que iria viver uma
situação premeditada- sim, porque também acredito que nada acontece por
acaso...- que serviria depois de tema para um trabalho na faculdade. Nos
primeiros dias de convivência, adotei aquela senhora como uma avó que nunca
pude paparicar, por sempre me encontrei longe das minhas progenitoras de
primeira geração. Ela era meio esquecida das coisas e as demais pensionistas me
alertavam para o seu jeito um tanto mal educado e extremamente econômico.
No entanto, não via-a desta forma e respeitava suas conversas repetidas e as
vezes um tanto inverossímeis. Imaginava a vida peculiar desta senhora que
literalmente ficou para titia. Nunca casou nem teve filhos, sobrevivendo
independentemente e construindo sua herança com trabalho árduo e dedicação. Mas
uma coisa eu pude perceber desde a primeira troca de olhar entre nós: sua obsessiva
desconfiança. Vejam que cômico: todo o seu dinheiro ela guardava em uma
bolsinha que pendurava em seu pescoço como se fosse um colar (cá entre nós, a
sua jóia). Alertava-me que uma vizinha-sua irmã-entrava dentro de casa e
roubava suas coisas.
Para seu esquecimento diário construía álibes: ladrãos. A
princípio eu até acreditava, mas depois observei que não passava de delírios.
Delírios de uma mulher que a vida toda foi vítima de exploração, convivendo com
pessoas mal-intencionadas que se aproveitavam de sua solidão para lhe extrair
seus ganhos, entre eles sobrinhos que a visitam até hoje para diagnosticar seu
estado de saúde e sonhar com a possível tomada de seus bens. Dizia com a boca “E
aí vovó tudo em cima?”; mas dentro de seu cérebro sujo inqueria “Quantos
anos a senhora ainda vai durar, preciso começar a fazer meus planos”. No
atual sistema social todos os valores são etiquetados, as relações entre as
pessoas assemelham-se a um empreendimento empresarial-objetivas e
interesseiras.

De uma maneira nada convencional, o filme Clube da Luta, ilustra essa sociedade capitalizada, alimentada pelo niilismo, pela crise de identidades, ausência de valores, mas que ao mesmo tempo integra uma variedade de possibilidades. O título nos remete à violência, mas ao contrário, Clube
da Luta é um filme sobre ideologia, com uma crítica bem ácida sobre a
sociedade moderna. Confira o trailer abaixo:
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