segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ágora da Preguiça

Quem, como eu, há alguns anos atrás, parou para pensar sobre os caminhos por onde humanidade poderia levar a internet (ou seria o contrário?), certamente chegou a vislumbrar, mesmo que por um vago momento, um espaço democrático e fértil para o debate de ideias. Entusiastas como eu, imaginaram que se abria, ali, um espaço de riqueza informacional, onde aqueles que tivessem interesse poderiam expor suas opiniões, debatê-las e enriquecê-las. Hoje vejo que meu entusiasmo pode me levar à frustração.
Há cerca de 10 anos víamos uma série de ferramentas em experimentação, e uma meia dúzia (meia dúzia de milhões) de interessados em seu funcionamento. Os desenvolvedores de software apresentavam propostas de programas e nem imaginavam até onde o usuário poderia chegar em sua utilização. Talvez, por essa ter captado exatamente esta nuance, é que as coisas tomaram o rumo atual.
“Maldita inclusão digital”. Esta frase é repetida com frequência pelos saudosistas da rede em uma fase em que ela era privilégio de poucos. E eu sempre discordei. Por questões sociais, e por que em meu vislumbre utópico, para que a rede fosse útil, ela deveria ser inclusiva. Mas hoje eu vejo a frustração me saltar aos olhos todos os dias.
O Facebook é popular, um fenômeno, o maior que o mundo já viveu, em massa, na rede. O Brasil relutou em aderir, demorou a abandonar o Orkut, mas hoje estamos lá. Quem pode estar no Facebook, está.  Aqui vale uma comparação entre as duas ferramentas. No Orkut, se você quisesse ter acesso a uma discussão, você deveria procurar por ela em uma comunidade relacionada ao seu tema de interesse. No Facebook, os debates estão na sua página inicial. Temos opiniões das mais diversas. Meio-ambiente, sexualidade, direito à vida, política, pirataria... Ótimo. É nossa ágora moderna. Sem sair do conforto do lar, está tudo ali.
Errado.
As traduções de ágora preveem tanto praça como mercado. Na Grécia antiga, essa distinção certamente não tinha a mesma importância que tem hoje no capitalismo moderno. O Facebook não se configura como um lugar onde você debate ideias, muda de opinião, e enriquece seu repertório. Mas, sim, um lugar onde você compra suas ideias de forma rápida e fácil. Pouca leitura, falar mais do que ouvir, abstrair sempre aquilo que mais se acomoda à sua personalidade completa e perfeita. Está tudo ali, e o melhor, você ganha correligionários automaticamente. Ótimo não?
O que você está esperando. Não sabe o que pensar sobre a copa? A fome? A guerra? O BBB? Está tudo aí, é só pegar!

Pintura de Péricles retratando uma ágora grega

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